Durante a campanha, após concluirmos uma missão mudamos de mestre, o mestre antigo criou um personagem para viver a própria história como jogador, e um dos jogadores assumiu a narrativa.
O jogador em questão é este que vos fala, e tenho achado uma experiencia muito interessante. Irei relatar aqui para vocês como me senti, como o grupo reagiu e algumas dicas que acredito serem válidas, assim vocês podem quem sabem, repetir a experiencia sem muitos problemas e se divertirem.
Uma pessoa inteligente aprende com os seus erros, uma pessoa sábia aprende com os erros dos outros. – Augusto Cury (Quem nem sabia, mas estava falando de RPG)
Para inciarmos de fato essa coluna, devo dizer algumas coisas para situar você, leitor, contextualizar os acontecimentos. Primeiro. Jogávamos uma campanha em um reino distante, usamos o sistema d20 de tormenta RPG e após finalizarmos uma parte da história, o mestre construiu um personagem e um jogador assumiu o posto de mestre da mesma campanha. A História narrada se passa atualmente em Arton.
Existem dois pontos principais a se pensar numa ação como essa. Um deles é Por que fazer isso?. Um objetivo é muito importante no RPG (e na vida), uma troca dessa não pode acontecer sem nenhum sentido. Alguma força maior deve ter ocorrido para mudar o "Deus" do seu mundo. A outra questão a se levantar é Temos maturidade para isso?, mesmo sem ter uma resposta clara para a primeira pergunta, a segunda é crucial e apenas com um SIM é que você poderá seguir em frente.
Os motivos podem ser variados. O mestre pode precisar abandonar a mesa (por motivos de força maior) e vocês para não deixarem de jogar resolvem continuar a campanha com um novo mestre (nesse caso, a resposta da segunda pergunta pode ser não, vocês não tem opção mesmo). Pode ser um mestre querendo que alguém narre o sistema criado por ele, ele deu uma introdução e agora quer ver como outras pessoas se saem no beta teste. O mestre quer narrar outra campanha, mas a anterior é muito boa para terminar assim. Ou o próprio sistema proporciona essa mecânica. Pode até ser uma experiencia apenas pela experiência. XP é tudo. Na nossa mesa nós já havíamos comentado sobre isso bem antes de colocarmos em prática, a possibilidade foi muito bem trabalhada e por um conjunto de alguns dos motivos acima, fizemos a troca
O nosso grupo também já é bem maduro e trabalhamos nossas histórias de forma bem coletiva. Fora do jogo comentamos sobre as sessões e rumos que poderíamos seguir, não só com os personagens, mas como toda a história. O narrador ouve tudo (ou eu espero que sim) e segue a trama levando em consideração o que discutimos. Então essa troca pôde ser feita sem muitos problemas. Mas ainda assim precisamos tomar alguns cuidados. No nosso caso apenas assumi a mesa por um período e ainda estou trabalhando alguns desses pontos, acredito que eles devem ser constantes.

Diferente de ter cada mestre narrando sua crônica teremos um mestre que não concluiu a saga, apenas uma parte dela e passou o bastão para um jogador, e ainda existe a possibilidade dele retomar a narrativa. O jogador que assumiu o posto possui um personagem dentro da trama e isso pode gerar um baita de um problema (ou vários) e por isso a maturidade é importante. O mestre por sua vez perde seu papel de narrador e passa a ter um único personagem dentro do jogo.
Como jogador, tive que "abandonar" meu personagem, e criei uma história para ele, assim ele pode ficar fora de cena, mas ainda continuar evoluindo. O personagem ainda tem aparições memoráveis, para que os outros jogadores não esqueçam dele. Nesse primeiro momento ele serve como guia do grupo no mundo do Arton, levando os personagens até a cidade onde eles irão investigar mais sobre a tormenta.
O antigo mestre agora joga com um personagem já conhecido na mesa, um NPC recorrente, que prestava auxilio aos PJs, usando um meio-orc bárbaro, que servia no navio conosco e agora ele é como aquele coadjuvante que tem um papel relevante na temporada a ponto de se tornar um personagem principal e dai seguimos.
Depois de resolvido os personagens, vem agora o que talvez seja uma das partes mais difíceis de resolver. A História. A narrativa deve continuar de onde parou, mas que rumo deve seguir? Apenas os envolvidos podem decidir. O antigo mestre pode ter um desfecho épico em mente para quando ele retomar a narrativa, pode ser aberto a opiniões ou não se importar com o rumo que a história vai seguir. Deve-se prosseguir com cuidados daqui, o que acontecer em seguida não poderá ser mudado e as adaptações podem não ficar boas. É como trocar o diretor de uma serie. Pode ser ruim, pode ser bom.
No caso da nossa mesa, conversei com o mestre e até discutimos futuras possibilidades que um poderia narrar e o outro seguir. Preferimos deixar alguns personagens de molho (ou em banho maria) para que eles possa retornar depois. A história em si se expande para um novo continente, uma vez que não começamos a jogar em Arton. O que me deu uma liberdade maior.
Na nossa mesa, cada um é especialista (por assim dizer) em um sistema ou cenário, e coube a mim apresentar o mundo de tormenta aos coleguinhas (assim como meu personagem fará com os coleguinhas dele) o que deixou tudo bem conciso. O mestre, quando voltar a narrativa, irá dar continuidade no continente inicial, com todos já munidos de informações.
RPG é jogo para se divertir, é feito para ser colaborativo, e essa talvez tenha sido a história mais inclusiva que tive o prazer de participar.
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